segunda-feira, 3 de abril de 2017


Percurso- com Ednei Xavier 
 
 
O mendigo
 
Numa manhã chuvosa e fria de final de ano, eis que ouço soar o interfone do meu apartamento. Como já estou acostumado às travessuras dos moleques da rua, fui até a sacada para me certificar de que não estavam outra vez apertando em vão, e aleatoriamente, nas teclas do aparelho. Para minha surpresa não os vi correndo pela rua. Definitivamente não havia ninguém lá fora.
Mais alguns minutos ouvindo o interfone ecoar nos outros apartamentos e novamente soou perto de mim. Dessa vez pude ver da sacada um pé descalço em frente ao portão. Não vi nada mais que isso, pois a pessoa estava escorada atrás da parede. Vez ou outra alguém toca o interfone do meu prédio pedindo alguma coisa. Normalmente pedem roupa ou leite para os filhos pequenos, mas desta vez, a voz do outro lado me pediu um pão. Que por sinal poderia ser velho.
Preparei um sanduíche de presunto – o queijo estava acabando – e levei para o homem. Confesso que desci a escada satisfeito por cumprir a boa ação do dia.  Afinal estava sendo solidário, enquanto muita gente seria capaz de negar um prato de comida a um pobre faminto – e depois ir à igreja fazer preces pelos pobres.
O homem em frente ao meu portão não parecia bêbado, mas estava maltrapilho e sua figura dava pena. Aquele olhar de gratidão misturado com auto - humilhação fez com que eu me sentisse bem menos generoso. Ele não foi capaz de me olhar nos olhos, sua baixa estima não lhe permitiu. Mas antes de sair, pude ver a esfaimada mordida no pão e o sincero agradecimento:
– Muito obrigado, menino. Que Jesus te abençoe!
O menino massageou meu ego, pois ele teria bem menos idade que eu.
Pode ter sido uma frase pronta, mas prefiro acreditar que não. Muita gente perde a fé por muito menos do que ele. E não estou falando apenas da fé religiosa, mas também não pretendo entrar nesse assunto. O fato é que eu não perguntei o que estava fazendo ali ou o que lhe tinha acontecido para estar sozinho e vagando pelas ruas. Eu poderia ter ligado para o Programa de Orientação ao desvalido, nem sei se isso existe por aqui, e pedido ajuda, eu poderia ter doado alguns minutos da minha atenção. Em vez disso, eu lhe dei um sanduíche de presunto. Mesmo sabendo que ele precisava muito mais do que isso.
Depois disso os interfones pararam de tocar naquela manhã. Mas, mesmo assim, eu não fiquei em paz.

FIQUEM COMIGO E COM DEUS, HOJE E SEMPRE!!!

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