sexta-feira, 19 de março de 2021

 Mulher e Pandemia:

Maria de Fátima: Fatinha, Rainha da Sucata

 “Eu tenho muita, mas muita fé mesmo e o povo não pode perder isso não. Deus é muito maior que nossos problemas e não podemos ter medo desse tempo ruim não. Vai passar”

 Não é personagem de novela, mas Maria de Fátima da Silva,59, é conhecida por muitos amigos como “Rainha da Sucata”, por conta do seu trabalho como catadora de materiais recicláveis em João Monlevade. Seja papelão, ferro velho ou latinha de alumínio, Fatinha junta tudo em seu carrinho de mão ao longo de avenidas da região do Cruzeiro Celeste. Ali, ela já tem seus fornecedores cativos, dos quais carinhosamente os trata como família. “Junto tudo e mando para um rapaz lá de Bela Vista de Minas. Não ganho muito dinheiro, mas tenho o suficiente para ser feliz”, explica. Mãe de duas filhas e avó de seis netos, Fatinha se sente bem morando sozinha. Aliás, sozinha não. “Deus mora comigo”, brinca. 

Mais de 20 anos como catadora, Fatinha conseguiu erguer seus sonhos trabalhando seja com chuva ou com sol. Nada a impedia de levar o carrinho para buscar o sustento da casa. Somente agora, depois de um certo tempo é que conseguiu fazer seu próprio horário. “Levanto todo dia às 5h, arrumo minha marmitinha  e estou pronta para o batente”, ensina a trabalhadora.

Escola: A escola da vida é que ensinou Fatinha a jamais deixar de sorrir. E, apesar da pouca leitura, ou nenhuma como ela mesma diz, sua instrução e conhecimento vão além da percepção de qualquer um. “Não sei ler, nem escrever, mas sei desenhar o meu nome. Mas sou boa nas contas”, gargalha-se e brinca consigo mesma com o fato de ser experiente em repassar o troco em dinheiro.

 União: De fé inabalável, Fatinha consegue tirar aprendizado de tudo. Seja com as alegrias ou pelas  dificuldades que não foram poucas. Porém, ela não gosta de relembrar nenhuma delas e prefere continuar rindo e gargalhando. Uma das 

passagens de sua vida que ela gosta de lembrar  é sobre a construção de sua casa, que contou com as mãos de tantas outras pessoas num sistema de mutirão. “Muita gente me ajudou. E é assim, sempre tem alguém por perto que podemos contar”, explica lembrando do tempo em que esteve  lutando com outras pessoas no Movimento dos Sem Casa (MSC), no bairro Monte Sagrado.

Pandemia : Dona de um sorriso expressivo e de uma gargalhada tão forte quanto a sua força, Fatinha diz que  quando não está sorrindo é porque algo não vai bem. Mesmo assim, ela brinca que consegue esconder uma tristeza ou outra.

Para a “Rainha da Sucata”, neste momento tão difícil para todas as famílias por conta da Covid-19, o sorriso pode até ficar menor, mas ele não pode acabar perante a tantas outras coisas bonitas ao redor.  “Essa pandemia vai passar. Muita gente está passando por tristeza. Eu tenho muita, mas muita fé mesmo e o povo não pode perder isso não. Deus é muito maior que nossos problemas e não podemos ter medo desse tempo ruim não. Vai passar”, profetiza Fatinha.

 Orações: Fatinha conta que sua força vem de muita oração e ela aproveita seu momento de silêncio em seu quarto para orar por todos trabalhadores como ela que estão na rua para tirar o sustento de suas casas. “Eu jamais esqueço do povo que está nos hospitais trabalhando. Enfermeiros, médicos,  pessoal da limpeza. Eles precisam demais de nossas orações. Não está sendo fácil para eles. Coragem, gente!”, enfatiza a catadora.

Conselho: Como mulher forte, Fatinha impulsiona em conselhos para que outras mulheres sejam firmes e decididas. “Tem que ir a luta mulherada. A gente peleja, peleja e consegue as coisas com fé e força. A luta não é fácil e com carinho e amor a gente faz o melhor “, ensina 

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